quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Um grande brasileiro fala de Gabriel

10/08/09

Roberto Saturnino Braga é Colunista de Plurale (*)

A morte desse rapaz Gabriel Buchmann me estremeceu.
Motivos muito antigos e muito interiores me causaram esse estremecimento. Lembranças encasuladas, foi um projeto meu, nunca realizado, e de tantos jovens inconformados, este de percorrer o mundo da pobreza, o mundo injustiçado, o mundo oculto e desprezado, conhecê-lo por dentro, demoradamente, e fazer depois desse conhecimento um relato candente, escrito e fotografado (não havia outras tecnologias de registro na minha mocidade), e uma bandeira política, fremente, tão vibrante que pudesse abalar o mundo. Foi um projeto frustrado da minha juventude, um sonho que começava na África, como o de Gabriel, como o de tantos milhares ou milhões de jovens pelo mundo afora. A África tem um grande apelo para os brasileiros; nós somos tão africanos quanto ibéricos.
Todavia, Gabriel foi, ousou e realizou o que outros fantasiaram tanto mas de longe. Arrostou a hesitação e a insegurança com a libido generosa da juventude. Foi. Mensagens de júbilo chegavam aos seus amigos no Brasil. Estava no Maláui, uma região da qual os amigos não tinham nenhuma referência, de tão pobre e esvaída no mapa. E ia tudo bem, conforme o projetado. Mas a mocidade, ademais de generosa, é estofada com o espírito da aventura. E Gabriel não resistiu à tentação de subir a montanha misteriosa, chegar lá no topo do monte Mulanje, dominador da região, sorver o ar fino, o arcano, e desfrutar o descortino daquela luz aberta.
Oh, meu Deus, que admiração sinto por este rapaz! Que pena, que sentimento de luto me toma a alma ao saber da sua morte! É a perda de um jovem brasileiro, extraordinário jovem brasileiro que eu acho que ia mudar o mundo com o seu arrojo, com o seu brilho, o seu saber, com o seu esforço.
Que grandeza perdida, que frustração profunda! Que pena. Estou de luto, não conseguirei escrever o Correio da próxima semana.
Meu abraço comovido à mãe de Gabriel e aos seus amigos.

(*) Roberto Saturnino Braga é Colunista de Plurale, colaborando com um artigo por mês. Ex-senador, é autor de vários livros.

domingo, 13 de setembro de 2009

Carta para uma tia de Gabriel

From: Ignes Ferber
To: anabellabuchmann@

Anabela,

vou me permitir ser repetitiva. O meu encantamento imediato por seu sobrinho (desde aquele primeiro email) foi pura identificação com o pouco que, na minha idade de jovem adulta, eu também tinha de 'aventureira' (aqui no melhor sentido de ir conhecer/entender as 'cores' da vida onde quer que estivessem). Também nasceu em mim uma forte admiração pelo Gabriel que já tão jovem conseguia entender, interagir e registrar em seus textos, brilhante e levemente, o funcionamento do mundo que ia conhecendo.

Ultimamente ando mais triste e me peguei engasgada ou chorando pelo Gabriel, sem nunca tê-lo encontrado fisicamente. Acho que ajudou o fato do pouco que conheço de vc Anabela, e de sua sensibilidade, fazer com que a história de Gabriel tomasse uma dimensão também pessoal. Talvez, como pode ter ocorrido com muitas pessoas, a história de Gabriel se instalou em mim sem que eu me desse conta.
Mas também percebi que minha tristeza era porque parte do que fui um dia, novamente se foi. A parte da pessoa idealista e cheia de energia para conhecer e trabalhar para um mundo melhor que está no imaginario dos sempre jovens de espírito. Acho que este era um dos segredos da liderança do Gabriel.

Tenho certeza absoluta que se os amigos e familiares sentirem a necessidade de continuarem unidos em torno da história que o seu menino Gabriel deixou na Terra, muitos de seus sonhos ainda poderão se concretizar.
Eu mesma (e muitas outras pessoas que deixaram se tocar pelo Gabriel) leria seus livros e, se me fosse permitido, participaria de seus trabalhos por admiração às idéias do homem que se formava e por acreditar na indole da familia.

Gostaria realmente de acertar nas palavras...

Um beijo Anabela, fique bem e em paz, que Gabriel também precisa e gostaria de sentir todos que o amavam fortalecidos.
Ignes.

sábado, 5 de setembro de 2009

Espectro Econômico - Mestrado Economia da PUC - Rio

Somos sete alunos do mestrado de economia da PUC-Rio. Esse blog tem o objetivo de debater principalmente, mas não exclusivamente, economia. Como cada um nós vem de uma univesidade diferente, com formações bem distintas, esperamos que esse blog represente uma proporção razoável das idéias do espectro econômico.
Sexta-feira, 7 de Agosto de 2009

Gabriel Buchmann responde a Michel Foucault

Na Genealogia da Ética, Michel Foucault perguntou:

"- O que me impressiona é o fato de que em nossa sociedade, arte se tornou algo ligado somente a objetos e não a indivíduos. Que arte seja algo somente para experts ou artistas. Mas por que não pode a vida de alguém se tornar uma obra de arte?"

- Ela pode, Foucault. Ele pôde.

Saudades.

Postado por Tiago Caruso às 04:16

1 comentário:

Anônimo disse...
A história desse cara dá um filme (vixe, olha aí alguém já querendo transformar a vida-arte em objeto). Daqueles bem emocionantes... e que faz as pessoas pensarem.abraços, Zamba
Ainda sobre oEsporte Espetacular

A Emoção continua!!!!!
Estamos recebendo inúmeras mensagens de pessoas que foram profundamente tocadas e sensibilizadas pelo Programa Esporte Espetacular da TV Globo de 30 de agosto!
Todos elogiam a sensibilidade , o respeito e o profissionalismo de Clayton Conservani e Thiago Asmar .
A ideia da homenagem, o carinhoso contato da equipe com a família, a viagem até a África, a subida ao Monte Mulanje, o enfoque humano com que descreveram a população local, a homenagem a Gabriel no cume do monte, a descrição sensível e fiel de seu perfil humanitário e até a bravura de Thiago , que completou a trilha com ligamentos do pé rompidos....Tudo isso valeu a pena .
Valeu a pena porque a alma deles não é pequena!
Valeu, Thiago e Clayton !!!!

Friends he met in Nepal

Gabriel‏
William Mcaleese (willmcaleese@googlemail.com)
mer. 02/09/09 16:22
À :
Dear Nina and Fatima

I have just received your email via Joao Tajara. Firstly I would like you to know how concerned we were when we first heard of Gabriels disappearance and of course how hurt we were when we learned of his death.

We met Gabriel in Nepal whilst trekking in Nepal on the Annapurna circuit and pretty much saw each other eveyday until we finally got over the pass of 5416m. He loved the whole thing and was completely in his element. I remember when were coming down the other side, he was running down like a big kid because he loved the snow so much. Gabriel was always pushing that little harder to go that bit higher or finish that little quicker.

Me, my girlfriend Tamar and her sister Rotem spent nights talking together and reliving the days trekking and mulling over life in general. We were so looking forward to him coming to England aswell.

We will miss the charasmatic Gabriel Buchmann. God bless

We are so sorry for your loss

William Mcaleese

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Para a equipe do Esporte Espetacular (II)

Agradecimento ao Esporte Espetacular



Vimos hoje, na Globo, a matéria com a façanha de vocês no monte Mulanje e gostaríamos de lhes agradecer muito, pois foi uma homenagem linda, linda! Somos da família Chaves de Mello, primos da mãe do Gabriel Buchmann (Fátima), e nos emocionamos demais ao vermos vocês perfazerem o mesmo caminho dele, correndo todos os riscos e nos fazendo reviver o que ele percorreu... E deixando lá aquela placa, com os versos de Fernando Pessoa, que tão bem sintetizam o que estamos sentindo com essa história toda, tão absurda...Sim, valeu a pena, pois a alma dele era muito grande! Gabriel era uma pessoa rara e especialíssima, dessas que não são deste mundo, mesmo! De uma generosidade sem par, de uma delicadeza e doçura que conquistavam a todos... Além disto, de uma competência intelectual muito acima da média, que teria feito dele uma pessoa de grande projeção, daqui a mais uns anos... Suas pesquisas trariam, certamente, um pouco de alívio aos problemas da humanidade...Sua vida foi ceifada cedo demais, mas o nosso consolo é que ele morreu de uma maneira linda, estudando a pobreza para melhorá-la e, graças a vocês, pudemos ver que o lugar escolhido para a sua morte também é lindo, digno da vida dele...

Graças a vocês, também, pudemos compartilhar a dor da família com o Brasil inteiro...Nada é consolo para um sofrimento tão intenso quanto o que a mãe, a irmã, a avó, os tios e demais familiares dele estão vivendo, neste momento, mas podem ter certeza de que trabalhos bonitos como o que vocês apresentaram hoje, para todo o Brasil, ajudam demais a consolar e minorar a nossa dor... Deixamos aqui o nosso muito obrigado,
Paulo Chaves de Mello e Elizabeth Chaves de Mello

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Beth Chaves