sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Comoventes Consideraçôes de um Amigo

De: Milton Rangel Salgado Neto

Oi Fátima,

Peço desculpas pela demora no envio deste email. Eu o escrevi poucos dias após minha visita a sua casa. Eu procuro aqui retratar a conversa que tivemos nesta minha visita, durante a qual você se mostrou sensibilizada e me pediu que pusesse em palavras aquelas frases que falei com sinceridade sobre o Gabriel.


Sobre o trabalho acadêmico que o Gabriel vinha desenvolvendo, tive a oportunidade de ler sua tese de mestrado que achei na internet, falando sobre a interação entre educação, fertilidade e políticas econômicas e suas conseqüências para a distribuição de renda.

Não vou me ater aqui a aspectos técnicos de sua tese. Apesar do brilhantismo do Gabriel e de seu rigor teórico, minha admiração (e surpresa!) é por algo mais simples que tudo isso: ao invés de se interessar por assuntos básicos para os economistas como finanças, taxas de juros, inflação, etc, que costumam render colocações no mercado de trabalho com volumosos contracheques, Gabriel focou todo seu esforço e seu talento estudando sobre a educação, sobre como seria possível melhorar o bem-estar de toda uma sociedade através do investimento na educação.

Escolha no mínimo inusitada. Eu diria que extremamente nobre da parte dele. E ainda provou tudo isso com um categórico rigor matemático, que é a atual língua dos economistas mais ortodoxos.

Além disso, refletindo após nossa conversa, percebi que sua contribuição transcende a própria teoria econômica que todos nós, economistas de formação,somos “doutrinados” a receber enquanto estamos na trajetória acadêmica.

Adam Smith, considerado por muitos o pai da economia moderna e o mais importante teórico do liberalismo econômico, afirmou em sua principal obra que “o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta (self-interest), é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade”.
Através desta frase aprendemos já no início da faculdade que o homem, por natureza, é egoísta e está em constante busca de sua própria satisfação. E o convívio entre todos os “homens egoístas” em uma economia regulada por diversas leis e normas dá origem a esta mão invisível que promove um equilíbrio econômico e o famoso bem-estar da sociedade.


Bom, teorias à parte, o que me surpreende no Gabriel é que ele contradiz o argumento fundamental de Smith. Gabriel provou ser possível não ser um ser humano egoísta e não olhar somente para seus interesses próprios (self-interest), mas olhar também para o próximo e ter o bem-estar social como uma finalidade, e não uma mera conseqüência de consecutivos atos de egoísmo ou porque uma “mão invisível” assim conduziu o rumo da economia.

Gabriel percebeu que há muita gente sofrendo, que alguma coisa está errada neste mundo, e procurou fazer a sua parte para melhorá-lo.

O fascinante em Gabriel é que ele não caiu na “armadilha” de achar que o que mede o caráter, a dignidade e a admiração por uma pessoa não é traduzido por quanto ela tem em sua conta bancária, por quantos títulos ela adquiriu ao longo da vida, ou por qualquer outra convenção social ligada a algum tipo de status.

Ele entendeu que todos somos irmãos, e todos somos fascinantes e dignos de sermos amados e respeitados. Do mais rico ao mais pobre. E apesar de todas as portas que estariam abertas para ele fazer parte desta ciranda materialista, ele optou por algo mais simples, algo que para ele certamente era mais valioso e verdadeiro, que lhe fazia mais sentido. Gabriel não se deixou levar por paradigmas e idéias impostas por “grandes pensadores” e “intelectuais respeitáveis”. E creio que ele tenha percebido isso apenas seguindo sua intuição, seguindo seu coração.


E ele entendeu também que, no nosso mundo, estar desprovido de liberdade é não poder voar, e não poder voar é não viver plenamente, é até não poder ser feliz. Para dar essa liberdade que ele tanto valorizava e vivia intensamente para outras pessoas, Gabriel achou um meio, mesmo nesse mundo louco no qual vivemos: através do acesso à educação.

A educação e a cultura são os meios mais simples e capazes de promover a emancipação do ser humano nesse nosso mundo atual. Faz com que eles não se tornem escravos de outros seres humanos.

E creio sinceramente que tamanha admiração pela vida do Gabriel se tornou um fenômeno tão grande para várias pessoas porque nós já começamos a esquecer o sentido da vida, coisa esta que Gabriel não apenas não esqueceu como viveu a cada dia de sua breve trajetória, e o reacendeu em nós.

E isso emociona a qualquer ser humano. Creio que se cada pessoa que deixasse esse mundo causasse o mesmo impacto que o Gabriel (independente do brilhantismo, mas pelo simples fato de ser humano e fazer o bem), o mundo seria um lugar melhor.

E Gabriel provou que isso é possível!

Um grande abraço,

Milton


“A verdadeira arte de viajar...
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!”

- Mário Quintana

3 comentários:

  1. Milton, não te conheço, mas você captou com mente inteligente e coração sensível a personagem rara e rica que é o buchmann ou Gabiruba, tão querido de todos nós!

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  2. Quanta sensibilidade! Adoro vir aqui, ler todas as mensagens. É fortalecedor e estimulante compreender um pouco mais o Gabriel. Como diz nesta mensagem, venho aqui reanceder o sentido da vida.

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  3. Liberdade, amor e simplicidade = Gabriel

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